SEJAM MUITO BEM VINDOS!

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sábado, 12 de dezembro de 2009

Tecnologia, Educação e Deficiência Visual

Revista Presença Pedagógica.
Nº. 75 - 17/05/2007 - pág. 40.
Reportagem: Marita Andrade.

Primeiro foi o braille, agora é a informática que traz mudanças importantes nas interações sociais e na vida escolar de crianças e jovens com deficiência visual.
Um estudante de 26 anos faz as provas e outros trabalhos escolares por meio do computador. Ele utiliza o correio eletrônico, o Skype e o MSN para enviar e receber arquivos, tirar dúvidas e resolver questões de Português e de Matemática com seus professores em uma escola de ensino regular noturno. Esse aluno é cego e, por essa razão, havia desistido de estudar na 5ª série do Ensino Fundamental. Ele retomou os estudos em 2005, depois de se tornar usuário do Centro de Apoio Pedagógico às Pessoas com Deficiência Visual de Belo Horizonte (CAP/BH), que mantém uma Escola de Informática e Cidadania, a EIC. Quem faz esse relato é a psicóloga e educadora Elizabet Dias de Sá, coordenadora do CAP/BH. Ela conta que outros jovens e adultos cegos ou com baixa visão usam os computadores da EIC para ler jornais, realizar pesquisas acadêmicas, fazer inscrição em concursos públicos, verificar resultados, ou simplesmente para treinar a digitação. Uma das alunas, que é judoca e tem baixa visão, acompanhou pela internet o noticiário das paraolimpíadas.
A maioria desses usuários não tem condições de comprar um computador. "A informática, como o braille, entrou na vida das pessoas cegas como um vertiginoso meio de integração social, abrindo um horizonte infinito de informação, educação, cultura, mercado de trabalho e comunicação", diz Marco Antônio de Queiroz, participante do Grupo de Trabalho da Associação Brasileira de Normas Técnicas para Acessibilidade aos Meios de Comunicação. Com os editores de texto, ledores de tela e sintetizadores de voz conjugados, pode-se trocar e-mails com pessoas de qualquer parte do mundo, ler jornais internacionais ou brasileiros e livros que foram escaneados. Marco Antônio lembra, porém, que a informatização depende de recursos financeiros individuais das pessoas com deficiência, da atualização das instituições que se dedicam à deficiência visual e das faculdades e escolas regulares. "A tecnologia torna um indivíduo cego muito mais habilitado a tarefas antes impossíveis. A dificuldade maior está na sociedade perceber essa evolução e acreditar mais em nossa participação!", diz Marco Antônio.
Renovação Pedagógica.

De aluno "rebelde" a professor de História ousado, Arnaldo Godoy teve uma passagem marcante no Instituto São Rafael, escola estadual que há 81 anos atende alunos com deficiência visual em Minas Gerais. No final dos anos 70, Godoy passou a levar os alunos para as ruas de Belo Horizonte para que eles entrevistassem moradores de rua e prostitutas. "Percebi que os alunos estavam escondidos da sociedade. Eles precisavam conhecer outras realidades. Além disso, a cidade precisava saber que o Instituto São Rafael era uma escola como outra qualquer e que seus alunos também fazem pesquisas e participam da vida em sociedade", explica.
Godoy lembra que muitos se assustaram e foram contra, mas uma supervisora o apoiou, sem falar nos alunos que adoraram a oportunidade de vivenciar novas experiências.
Arnaldo Godoy contribuiu para a politização da comunidade escolar e iniciou na instituição a discussão de temas como cidadania e direitos da pessoa com deficiência. Hoje, vereador pelo PT em Belo Horizonte, ele continua atento às causas da educação, cultura, juventude e, claro, da deficiência. Mas ressalta que não defende nenhum tipo de protecionismo: "A proteção desprotege e a caridade castra", acredita. Ele argumenta que a superproteção tira a vontade de lutar por direitos e leva à falta de compromisso.
Arnaldo Godoy conta que a família teve um papel determinante em sua vida exatamente porque não o superprotegeu. "Minha infância foi numa casa cheia de gente: pai, mãe, oito irmãos, avós, primos, vizinhos... Eu não podia me fazer de vítima e tinha que lutar diariamente pelo colo de cada dia. Até nas nossas brincadeiras não existia superproteção e hoje vejo como isso foi positivo para meu crescimento", revela.
Da mesma forma, professores devem ficar atentos. Muitas vezes, com o objetivo de incluir os alunos com deficiência, acabam superprotegendo-os, o que não contribui em nada para sua inclusão. Arnaldo Godoy diz que o papel da escola é oferecer apoio para que os alunos cresçam como cidadãos e lutem por sua autonomia.
Ele também ressalta que é impossível falar em educação inclusiva sem falar em qualidade no ensino, pois uma educação de qualidade é o primeiro passo para que a inclusão aconteça. "A qualidade está diretamente ligada à inclusão", defende.

Lendo com as mãos.

Encontrar práticas pedagógicas que contribuam para o sucesso de alunos com deficiência visual é a busca de muitos educadores. Um desafio que Vânia Dias, professora de química da Escola Estadual Maurício Murgel, em Belo Horizonte, se dispôs a enfrentar. Cíntia Rodrigues, 19 anos, aluna com deficiência visual, diz que uma das dificuldades encontradas é com os conteúdos de Química ligados às cores e gráficos. Mas com o empenho da professora Vânia, tudo vem ficando mais fácil. Conversando com os alunos com deficiência visual sobre como percebiam as coisas e como aprenderam conteúdos em anos anteriores, Vânia conseguiu adequar os conteúdos de Química às condições dos alunos. Ela conta que também procurou o Instituto São Rafael e a Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais em busca de formas alternativas para trabalhar. A partir daí, ela começou a esboçar gráficos em alto relevo, usando areia e outros materiais com superfícies diferenciadas e a transformar cores em texturas, para que, através do tato, eles visualizassem uma determinada cor. "Com a água e o óleo também foi assim. Quando colocavam o dedo, eles percebiam que ali havia duas texturas diferentes e assim pude associar as fases do líquido", exemplifica a professora. Vânia comenta que o trabalho fluiu melhor e ficou mais interessante inclusive para os outros alunos. A linguagem usada dentro de sala também começou a ser adequada. "Parei de falar: 'vocês estão vendo isso aqui no quadro?'", conta. A diretora da Maurício Murgel, Sônia Marinho Resende, diz que trabalhar com todo tipo de diversidade é motivador e desafiante e que o sucesso também depende da criatividade e do empenho de toda equipe da escola.

Rede de informações.

A Rede Saci é uma rede de informações sobre deficiência que promove discussão, bate-papo, publica artigos e divulga materiais de acessibilidade. O site da Rede também auxilia professores a trabalharem com a inclusão de alunos. As principais ferramentas de atuação da Rede são a internet e os Centros de Informação e Convivência (CICs), situados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Uberlândia. Educadora e coordenadora da Rede Saci, Ana Maria Barbosa conta que o Observatório de Educação Inclusiva representa um espaço democrático em que professores, família, alunos e pais se reúnem para trocar experiências sobre inclusão.
Os resultados desses encontros foram sistematizados em uma espécie de cartilha voltada para o professor. O livro, editado pela Imprensa Oficial de São Paulo, chama-se "Educação Inclusiva: o que o professor tem a ver com isso" e pode ser baixado no site www.saci.org.br gratuitamente. A Rede Saci pretende dar continuidade ao livro produzindo outros volumes específicos por faixa etária dos alunos. "Essa é uma das contribuições que queremos oferecer à capacitação dos professores", adianta Ana Maria.

Dicas de livros para professores disponíveis na Rede Saci.

Acessibilidade. Brasília: Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, Corde, 2005.
Educação inclusiva: o que o professor tem a ver com isso? Rede Saci, 2006.
MITTLER, Peter. Educação Inclusiva - contextos sociais. Artmed Editora, 2003.
AMARAL, Lígia Assumpção. Pensar a diferença/deficiência. Rede Saci.
Sites sobre educação e deficiência
www.planetaeducacao.com.br
www.bancodeescola.com
www.bengalalegal.com

Educação e Tecnologias Assistivas.

Uma boa dose de criatividade por parte dos professores pode fazer com que soluções simples facilitem o aprendizado do aluno. Exemplos? A fita adesiva que fixa o papel na carteira, para que o aluno com deficiência motora possa escrever sem que a folha escorregue, um jogo da memória feito com relevo para os alunos cegos ou softwares que lêem em voz alta o que está escrito na tela. Tudo isso pode ser chamado de tecnologia assistiva, ou seja, toda e qualquer ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar maior independência, autonomia, qualidade de vida e inclusão social da pessoa com deficiência.
O Censo Escolar 2006, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contabilizou 375.488 matrículas de alunos com deficiência na Educação Básica e um crescimento de 76,4% no atendimento em classes comuns. Isso indica que a educação inclusiva no Brasil vem se ampliando. Do total de matrícula, 17,6% correspondem à Educação Infantil, 65,4% ao Ensino Fundamental, 1,7% ao Ensino Médio e 15,3% à Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional. Os dados também mostram que o acesso ao Ensino Superior ainda é um privilégio de poucas pessoas com deficiência. Há cerca de 5.392 matrículas, sendo que 1.665 correspondem aos alunos com deficiência visual. É bom lembrar que a maior parte se concentra nas instituições privadas.
Inclusão no Brasil.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), há no Brasil 24,6 milhões de pessoas com deficiência. Apenas 9 milhões estão inseridas no mercado formal de trabalho. Nas ruas, os cegos ainda vendem bilhetes de loteria e muitos cadeirantes vendem balas ou pedem esmola. A maior parte não teve acesso à educação.
Por muitos anos, as pessoas com deficiência estiveram à margem da sociedade, num processo de segregação. Até a década de 70 do século XX, a escola seguia o modelo da integração, ou seja, aceitava somente os alunos que tivessem condições de acompanhar os métodos de ensino e o ritmo de aprendizagem da maioria dos alunos. Considerava-se que a deficiência era um problema que estava na pessoa e, portanto, era ela que precisava ser habilitada, reabilitada e educada para se tornar apta para satisfazer os padrões aceitos no meio social.
Os que não estivessem "prontos" para a escola precisavam ser preparados numa classe especial ou numa escola especial. A partir dos anos 80, esse modelo começou a ser questionado e, nos anos 90, o conceito de inclusão começou a ganhar força. Escolas, empresas e espaços públicos devem estar preparados para acolher as pessoas com deficiência: sem barreiras arquitetônicas e com mobiliário adaptado. Mais que isso, todos devem estar preparados para encontrar alternativas que favoreçam a inclusão das pessoas com deficiência.
Assim Caminha a Humanidade.
1948 - Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU) estabelece que os direitos humanos são os direitos fundamentais de todos os indivíduos. Todas as pessoas devem ter respeitados os seus direitos humanos: direito à vida, à integridade física, à liberdade, à igualdade, à dignidade, à educação.
1975 - Declaração Universal dos Direitos das Pessoas Deficientes (ONU) estabelece os direitos de todas as pessoas com deficiência, sem qualquer discriminação.
1980 - Carta para a década de 80 (ONU) estabelece metas dos países membros para garantir igualdade de direitos e oportunidades para as pessoas com deficiência.
1983-1992 - Década das Nações Unidas para as pessoas com deficiência, para que os países membros adotem medidas concretas para garantir direitos civis e humanos.
1990 - Conferência Mundial sobre Educação para Todos (ONU) aprova a Declaração Mundial sobre Educação Para Todos (Conferência de Jomtien, Tailândia) e o Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem; promove a universalização do acesso à educação.
1993 - Normas sobre Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência (ONU) estabelece padrões mínimos para promover igualdade de direitos (direito a educação em todos os níveis para crianças, jovens e adultos com deficiência, em ambientes inclusivos).
1994 - Declaração de Salamanca - Princípios, Política e Prática em Educação Especial proclamada na Conferência Mundial de Educação Especial sobre Necessidades Educacionais especiais reafirma o compromisso para com a Educação para Todos e reconhece a necessidade de providenciar educação para pessoas com necessidades educacionais especiais dentro do sistema regular de ensino.
1993 - Declaração de Manágua - 39 países das Américas exigem a inclusão curricular da deficiência em todos os níveis da educação, formação dos profissionais e medidas que assegurem acesso a serviços públicos e privados, incluindo saúde, educação formal em todos os níveis e trabalho significativo para os jovens.
2007 - Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (ONU) para promover e assegurar os direitos humanos e liberdade fundamentais por parte de todas as pessoas com deficiência.

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