Ver Vendo
De tanto ver, a gente banaliza o olhar – vê... não vendo.
Experimente ver, pela primeira vez, o que você vê todo dia, sem ver.
Parece fácil, mas não é: o que nos é familiar, já não desperta
Curiosidade.
O campo visual da nossa retina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta.
Se alguém lhe perguntar o que você vê no caminho, você não sabe.
De tanto ver você banaliza o olhar...
(...)
O hábito suja os olhos e baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver:
Gente, coisas, bichos... E vemos? Não, não vemos!
Uma criança vê o que um adulto não vê.
Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo.
O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê.
Há pai que raramente vê o filho. Marido que nunca viu a própria mulher.
E, no nosso caso, professor que nunca viu o aluno,
Que não percebe as diferenças em sua classe.
Que vê seu grupo como algo uniforme.
Que não aceita ver o que se difere (isso dá trabalho!)
Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos.
... é por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
Otto Lara Rezende
Adaptado por Ângela Roswag
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
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